sexta-feira, 8 de junho de 2007

Instruções para uso de um banheiro inteligente

Prezado usuário,
Este estabelecimento é provido de inteligentes sanitários automatizados. Para evitar constrangimentos e pânico, sugerimos a leitura atenta destas instruções.

Um sensor de presença acusa sua entrada e liga a luz, que fica acesa por 30 segundos. Este é um sanitário de uso comum, portanto não há previsão de longos períodos de permanência para defecar ou se deter em leituras demoradas. Após 30 segundos a luz se apaga automaticamente. Caso necessite de mais tempo para levar a cabo seu objetivo, o usuário pode balançar levemente a cabeça ou mover um braço em movimento similar ao utilizado para caçar mosquitos ou fazer tchau. Em se tratando de diarréia ou constipação, eventualidades que requerem um período prolongado de assento, sugerimos balançar continuamente o corpo em movimento pendular, para evitar sobressaltos adversos ao processo de relaxamento mais adequado nestas circunstancias.
A válvula de descarga deste sanitário também é acionada por um sensor infravermelho que acusa presença. Uma bunda sem movimento no vão do assento sanitário entende-se como uma bunda ausente. Diante de uma bunda ausente, 30 segundos após uma bunda presente, a descarga é acionada. O recinto dispõe de toalhas de papel individuais, maiores que o papel higiênico convencional para caso o sistema considere a bunda presente, ausente; e venham a ocorrer borrifos em loco.
Por fim, também os lavatórios são munidos de célula fotoelétrica, cujo uso já vem sendo largamente utilizado em estabelecimentos públicos. Nestes lavatórios, o sensor detecta a presença de qualquer coisa num raio de 6 cm de diâmetro a sua frente, e mantem a água ligada por 10 segundos.
Lembramos ao usuário que o estabelecimento não responde juridicamente perante situações vexatórias oriundas de reações fóbicas , resultando em indivíduos de calças arriadas ou com as partes pudendas expostas no salão
Consideramos que as eventuais situações adversas decorrentes destes avanços tecnológicos, são plenamente compensadas pelos benefícios que o sistema proporciona: O usuário deste recinto esta dispensado de apagar a luz, puxar a descarga e fechar a torneira, podendo assim, reservar toda a sua capacidade inteligente para decifrar as imagens criteriosamente escolhidas para identificar os sanitários - masculino e feminino.
Atenciosamente
A Gerencia

Eu não uso óculos

O querido Dr Mauro, a quem confiei e confio a visão do meu filho desde a infancia, que me desculpe, mas não estou usando os óculos multifocais que ele me receitou. Não que eu não precise.
Há alguns anos atrás uma cliente entrou na loja e se espantou com minha acuidade visual, quando já passava dos 40. Disse que me preparasse, que a “cegueira” viria de repente, do nada. De um dia para outra eu me surpreenderia ao tentar ler qualquer coisa e me sentiria “cega”. Não deu outra. Cega estou. E cada dia mais!
No começo a presbiopia me incomodava, hoje apenas complica um pouco a vida. Tenho óculos em todos os cantos da casa, no carro, no trabalho... Há alguns meses atrás quase aderi aos tais multi focais. Ia mandar fazer nos EUA por ser mais barato, mas – ato falho – esqueci a receita. Agora ando feliz e faço propaganda da anti visão
Parece-me que a presbiopia é antes uma benção do que uma praga. Pense bem: pra que enxergar tudo? Quando me olho no espelho – sem óculos- me sinto mais jovem, não tenho rugas, nem estrias, também não tenho mancha nas mãos... Cabelos brancos? Não os vejo. Muito menos os pretos... Também não vejo a roupa mal passada, o pozinho em cima do criado mudo. Todas as pessoas parecem mais jovens e bonitas. Quando quero ver o que minha natureza não permite, recorro a ciência.
O único episodio que de fato me aborreceu foi ter errado o dia do Barmitzvá do filho da minha querida amiga Gisela. Estava escrito no convite dia 2 e eu – sem óculos - li 3... Chorei de raiva no dia... Acho que ela me perdoou (espero...) De resto, não tem me feito a mínima falta. No metier alguns andam dizendo que me soltei nas formas... só por que tenho feito umas coisas meio tortas, deve ser por que não enxergo direito.
Portanto, virei defensora dos óculos de vovó, do tipo põe e tira. Só vejo o que me interessa... privilégio da visão seletiva.