sábado, 7 de julho de 2007

WEB MOM

Propagandas de dia das mães costumam citar tipos de mãe: a clássica, a descolada, a elegante, a preocupada....Mas ninguém de um tipo recente, cujos filhos perambulam pelo planeta, e que para falar com as crianças é preciso se tornar uma WEB MOM.
A web mom tem 2 ferramentas fundamentais: MSN e SKYP. Não pense que é ruim. Não precisa se preocupar se tem comida na geladeira ou se as meias ainda estao no cesto ou na gaveta. Também não precisa acordar de madrugada pra saber se as crianças já chegaram em casa. Só tem que se preocupar com o fuso horário, que no meu caso varia de - 4 a + 6 hs. Considerando os trabalhos e as escolas do -4, sobram as longas madrugadas, onde teclamos avidamente e parece que estamos pertinho. Dá pra falar bobagem, rir sozinha, escrever tudo errado e ainda assim entender tudo o que se escreve exceto quando aparecem dezenas de consoantes ao acaso... então ele entende que eu adormeci sobre o lep top.
No caso do +6 é de dia mesmo, por que quando eu me deito, lá pela meia noite ou uma da manha, ele esta dormindo. Passamos a tarde com o MSN ligado em nossos trabalhos e trocamos comentários como quem está na sala ao lado, vibramos juntos com as vitórias e com as não vitórias... Bem, nas não vitórias entra o skype, seja qual for o fuso horário.
Normalmente acho divertido ser uma web mom, o problema é que o computador não é um chip que fica debaixo da pele (... ainda), e nem sempre os meninos estão plugados....
E assim foi neste final de semana. Aqui em casa sempre que alguém volta (ou voltava?.. prefiro pensar que web mom é um estado temporário...) de viagem, juntam-se os três pra atualizar a conversa e saber das fofocas da viagem. Para mim este é um dos motivos mais gostosos de voltar pra casa, aplacando um pouco o bode que todo fim de férias dá. Neste domingo, quando voltei de viagem a web mom se deu mal... ninguém estava plugado. Nada que não pudesse ser contado no dia seguinte, como foi... das 5 as 8 esta manha...
Enquanto falava (digo teclava) com -4 no MSN, escrevia este post e quando demorava um pouquinho pra responder ele reclamava – vou dormir... os seus textos são mais importantes do que eu tenho pra te contar...
Ahhh, os WEB BOYS...

Adrica

Tomei um susto quando me dei conta que não a via há quarenta anos. É como se todo o tempo passado estava dentro de uma cesta. A mesma cesta de sempre, as unidades de tempo é que foram ficando menores e se amontoavamm naquele mesmo espaço. Quarenta anos couberam dentro da cesta, e ela estava aqui debaixo do meu braço, pronta para ser revirada a qualquer momento.
E que revirada! Vê-la no meu atelier, me contando historias de pessoas esquecidas, tocando minhas coisas, cheirava a “ de volta pro futuro”.
Lembrei-me de quando ela ia brincar em casa, minha mãe comemorava sua partida – Ufa, quanto barulho vocês fazem quando estão juntas... parece que tem 10 crianças aqui!
Na casa dela tomava-se mate gelado no lugar de refrigerantes e mastigava-se cenouras no lugar de chicletes. E tinha que mastigar de boca fechada, dizia sisuda a mãe dela, para não fazer barulho. Comia escondido, pois dentro da minha cabeça era um barulho inaquietável. Não tinha medo dela, não era do tipo que batia em ninguém, ao menos que eu soubesse – mas tinha respeito por aquele olhar AR15 de reprovação. Longe de seus olhos, pulávamos nas camas, fazíamos chuva de grama e guerra de travesseiros.
Ao final da tarde as crianças tomavam banho e se preparavam para o jantar, servido a francesa por copeiras portuguesas( (legitimas, importadas mesmo), e era quando chegava o pai: um sujeito polêmico, divertido, mas de uma alegria que eu, criança, não conseguia entender. Falava coisas que os adultos riam, pintava mulheres nuas que ficavam expostas na sala de jantar. Mesmo sem entender eu o admirava. Foi o primeiro artista plástico que conheci pessoalmente.
Agora minha missão é transformar o jazigo deste homem em uma obra de arte, com os elementos que fizeram a ultima fase de sua vida.
Ela me traz uma foto da casa na Ilha onde viveu seus últimos e mais felizes anos. Grandes janelas e um deck de madeira sobre o mar. Não é Isla Negra, nem a Sebastiana, mas poderia ser... O que é isto tudo? E eu trançando cordas de vidro, aflita por ver o mar.
Eu que nasci no mar, e amo o mar, como amo a poesia e a pintura, e o vidro, e a vida, como uma grande e inquieta onda do mar.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Cadê o Controle Remoto?

Não gosto de televisão. Principalmente dos programas de TV, temperados de propaganda e previws, que se repetem e repetem até que vc decore cada um deles. Filmes são sagrados e o Animal Planet também (carinhosamente apelidado de TV Bichinho). Com o advento do controle remoto, mais especificamente da função sleep, a TV ganhou a mais nobre das funções: me fazer dormir. Ler também faz, mas dá trabalho. Ver TV é uma aadorável preguiça que alveja pensamentos. Bastam 30 minutos e raramente me lembro o que foi que vi antes de dormir. Sábias invenções da modernidade.
Há quem ria disto, mas o lugar onde guardo o controle remoto é debaixo do travesseiro. Na condição de memória que me encontro, ando obsessiva com os lugares de certas coisas, pois só eu sei o diabo que é acha-las depois.
Estes dias o controle me pregou uma peça. Passava um filme do gênero ficção cientifica e eu não estava entendo nada. Mas como nada é preciso entender quando se espera o sono chegar, continuei assistindo. O sono não vinha e o filme prosseguia, com uma mulher linda e malvada que se transforma nos vários personagens do filme. Num determinado momento o protagonista fala com um certo “senhor”, que mais parece um guru, dono de uma sabedoria que parece explicar ao jovem desesperado os mistérios que vem acontecendo. E na tela começa a piscar em amarelo 60,59,58,57..... o timing está terminando e passo a mão debaixo do travesseiro para prorroga-lo, mas o controle não esta lá. Cadê o controle? Sento-me na cama totalmente desperta, dividida entre ouvir o que o sujeito fala e achar o controle “... não é possível levar uma vida feliz e com significado...” 3,2,1... ATÉ LOGO.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Instruções para uso de um banheiro inteligente

Prezado usuário,
Este estabelecimento é provido de inteligentes sanitários automatizados. Para evitar constrangimentos e pânico, sugerimos a leitura atenta destas instruções.

Um sensor de presença acusa sua entrada e liga a luz, que fica acesa por 30 segundos. Este é um sanitário de uso comum, portanto não há previsão de longos períodos de permanência para defecar ou se deter em leituras demoradas. Após 30 segundos a luz se apaga automaticamente. Caso necessite de mais tempo para levar a cabo seu objetivo, o usuário pode balançar levemente a cabeça ou mover um braço em movimento similar ao utilizado para caçar mosquitos ou fazer tchau. Em se tratando de diarréia ou constipação, eventualidades que requerem um período prolongado de assento, sugerimos balançar continuamente o corpo em movimento pendular, para evitar sobressaltos adversos ao processo de relaxamento mais adequado nestas circunstancias.
A válvula de descarga deste sanitário também é acionada por um sensor infravermelho que acusa presença. Uma bunda sem movimento no vão do assento sanitário entende-se como uma bunda ausente. Diante de uma bunda ausente, 30 segundos após uma bunda presente, a descarga é acionada. O recinto dispõe de toalhas de papel individuais, maiores que o papel higiênico convencional para caso o sistema considere a bunda presente, ausente; e venham a ocorrer borrifos em loco.
Por fim, também os lavatórios são munidos de célula fotoelétrica, cujo uso já vem sendo largamente utilizado em estabelecimentos públicos. Nestes lavatórios, o sensor detecta a presença de qualquer coisa num raio de 6 cm de diâmetro a sua frente, e mantem a água ligada por 10 segundos.
Lembramos ao usuário que o estabelecimento não responde juridicamente perante situações vexatórias oriundas de reações fóbicas , resultando em indivíduos de calças arriadas ou com as partes pudendas expostas no salão
Consideramos que as eventuais situações adversas decorrentes destes avanços tecnológicos, são plenamente compensadas pelos benefícios que o sistema proporciona: O usuário deste recinto esta dispensado de apagar a luz, puxar a descarga e fechar a torneira, podendo assim, reservar toda a sua capacidade inteligente para decifrar as imagens criteriosamente escolhidas para identificar os sanitários - masculino e feminino.
Atenciosamente
A Gerencia

Eu não uso óculos

O querido Dr Mauro, a quem confiei e confio a visão do meu filho desde a infancia, que me desculpe, mas não estou usando os óculos multifocais que ele me receitou. Não que eu não precise.
Há alguns anos atrás uma cliente entrou na loja e se espantou com minha acuidade visual, quando já passava dos 40. Disse que me preparasse, que a “cegueira” viria de repente, do nada. De um dia para outra eu me surpreenderia ao tentar ler qualquer coisa e me sentiria “cega”. Não deu outra. Cega estou. E cada dia mais!
No começo a presbiopia me incomodava, hoje apenas complica um pouco a vida. Tenho óculos em todos os cantos da casa, no carro, no trabalho... Há alguns meses atrás quase aderi aos tais multi focais. Ia mandar fazer nos EUA por ser mais barato, mas – ato falho – esqueci a receita. Agora ando feliz e faço propaganda da anti visão
Parece-me que a presbiopia é antes uma benção do que uma praga. Pense bem: pra que enxergar tudo? Quando me olho no espelho – sem óculos- me sinto mais jovem, não tenho rugas, nem estrias, também não tenho mancha nas mãos... Cabelos brancos? Não os vejo. Muito menos os pretos... Também não vejo a roupa mal passada, o pozinho em cima do criado mudo. Todas as pessoas parecem mais jovens e bonitas. Quando quero ver o que minha natureza não permite, recorro a ciência.
O único episodio que de fato me aborreceu foi ter errado o dia do Barmitzvá do filho da minha querida amiga Gisela. Estava escrito no convite dia 2 e eu – sem óculos - li 3... Chorei de raiva no dia... Acho que ela me perdoou (espero...) De resto, não tem me feito a mínima falta. No metier alguns andam dizendo que me soltei nas formas... só por que tenho feito umas coisas meio tortas, deve ser por que não enxergo direito.
Portanto, virei defensora dos óculos de vovó, do tipo põe e tira. Só vejo o que me interessa... privilégio da visão seletiva.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Rucula e Tomate Seco

Era só pra cortar um pedaço de pizza, mas eis que a espátula escapou, a travessa escorregou e naquela fração de segundos que a razão não é capaz de registrar, tinha uma pizza inteira, de cara pra baixo, em cima da minha bolsa; que até então jazia esquecida na cadeira ao lado. E estava aberta. Um pouco aberta... Aquela fresta estratégica que apenas facilita colocar a mão e retirar qualquer coisa do seu interior, só pelo tato. Via de regra isto é tão confortável!

Naquele momento não foi. Caí na gargalhada; era comigo, mas era engraçado. Uma pizza inteira em cima de uma bolsa de tecido cor de marfim.

Não sabia se colocava a mão ou se deixava o garçom se virar. Por um momento imaginei que todo o recheio poderia estar bem grudado na massa e que nada cairia dentro. Delicadamente a vilã foi retirada de cima. Estiquei os olhos pra ver bem lá no fundo dela... Outra gargalhada. Além da grotesca mancha de azeite e molho de tomate sobre o delicado marfim , havia predominantemente 2 ingredientes no seu interior. Tomates secos e rúculas. Não eram folhas, mas infindáveis tiras finas e curtas da aromática hortaliça. Tomei a bolsa no colo para avaliar melhor os danos. Não sei por que ria tanto diante de tão patético cenário: Uma bolsa de tecido quando se acomoda em uma cadeira se esparrama toda, e ao mesmo tempo que permite uma visão panorâmica de seu conteúdo, também a expõe a riscos panorâmicos. Tirar os 3 tomates secos foi fácil, e o garçom rapidamente o fez com um pegador de gelo. As rúculas, no entanto,se distribuíram panoramicamente. Tirá-las da carteira, celular estojo de óculos e estas coisas de grande porte, não foi tão complicado assim. Mas uma bolsa de mulher... tem muito mais do que isto. Tem piranha de cabelo, cartela de remédio, cartões de visita, notinha de supermercado, moedas... quantas, chaves... várias, cupon de desconto, convite do SPA; e o cartão do estacionamento – será que a máquina vai ler o código de barras com azeite?

Então as dezenas de tirinhas de rúcula foram sendo cuidadosamente removidas uma a uma de cada insólito pertence desta bolsa tão feminina. Depois da terceira miudeza a ser limpa comecei a me irritar, mas parece que o garçom não percebeu, e apareceu com um spray de talco contra cada mancha da bolsa, e o que quer que estivesse por trás dela: no momento, eu. A blusa preta e a calça Jeans também ficaram brancas do tal do talco.

Estava preste a ter um ataque histérico, quando apareceu a senhora do bom senso por tras do cracha "Rosely" com a divina providencia: Isto não vai funcionar. Vamos mandar pra lavanderia!

Ufa, respirei fundo e contei até 10.

Pertences pro saco, bolsa pra lavanderia. Enquanto lavava as mãos e me desembranquiçava , outra pizza já estava na mesa.

Quantas centenas de finas tiras de Rúcula havia naquele apetitoso pedaço de pizza brilhando de azeita sobre a louça branca do meu prato?

Melhor comer do que contar! Afinal, a pizza ficou por conta da casa, e a bolsa acabou de chegar da lavanderia.

De pó a pó

Do pó vieste

ao pó retornaras

Mas entre um pó e outro

puxa vida...

 

Quanta tormenta

ranheta

encrenca

a vida puxa.

 

Quanta alegria

deleite

maravilha

puxa a vida

segunda-feira, 7 de maio de 2007

A VIRADA CULTURAL

Realmente a cultura virou. Virou de publico, de classe e de propósito.
Não importa se a idéia é original ou cópia, importa que 3 milhões e meio de pessoas estavam na rua.
Fui neste final de semana me deleitar com a febre de arte e cultura que invadiu o centro de São Paulo. A retirada dos anúncios e luminosos espalhafatosos deixou um gostinho saudoso da infância, quando passeava de mãos dadas com a mamãe pelo centro velho. Diria que agora basta uma boa mão de tinta e o centro vai ficar lindo... de dois metros pra cima. De dois metros pra baixo vai precisar embelezar as pessoas. Por que a pobreza é feia e suja. E quem quer uma cidade limpa e bonita, vai ter que embelezar os humanos de plantão.
Mas este é apenas o palco em que acontece a virada cultural. A molecada se divertiu, mas não faltou atração pros 40 and up. O Stagium dançou Chico Buarque, tinha Erasmo Carlos pra velha guarda, João Bosco (sem Aldir Blanc), Ed Motta, Jards Macalé e até ressuscitaram o divertido Premeditando o Breque... Nunca ouviu falar???? Então vc é 40 and down!
Aquele povo se amontoando na Pça da Sé, no vale do Anhangabaú, tinha um gostinho anos 80, de encontro anual da SBPC, ou dos comícios pro Diretas Já. Muita coisa mudou de lá pra cá, e talvez ninguém achava muita graça no Preme em 1982 por que naquela época tinha um grito parado na garganta e a graça era ser sério e contestador. Contestador como era “o que será que será” do Chico Buarque. Confesso que deu um nó no peito ver a galera apinhada no vale do Anhangabaú, assistindo ao Stagium dançando o que será que será e cantando livre leve e solto “... o que não tem governo nem nunca terá, o que não tem juízo...” e uma faixa acima do palco vigorosamente iluminada exibindo em letras garrafais “ SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA”. Quem fez a historia da democracia que se deleite... mas não pense que é tudo de bom. A PM perdeu a compostura e desceu o cassete nos irracionais... dizem que foi só bomba de efeito moral, mas podíamos dormir sem essa. No geral valeu a festa!

sexta-feira, 4 de maio de 2007

GOL, voo 1532, 17:25 hs

Parte 1 – O sufoco

Avenida Morumbi, sexta feira, 4:15 da tarde. Preciso chegar em Congonhas até as 4:55.

Já fiz chek in on line, super moderninho, coisa de gente inteligente que escolhe uma cia inteligente. Adoro estas modernidades!

Errei o caminho... e agora? Vou me perder, o Morumbi é bem complicado e não conheço nada por aqui. Olho por cima das casas e veja a Marginal. Ufa, não estou tão longe assim. Só que a Bandeirantes ficou pra traz! 4:20! Acelero, dou a volta ... Péssimo. Dezenas de caminhões, enormes, me encaixo no meio deles, sufoco, tudo parado e eu encurralada entre estas paredes de lata com propagandas. 4:25. Estou perto, eu sei, mas quanto tempo? Tudo parado! 4:30, 4:35. Falta muito pouco..., mas ta tudo parado.

É a próxima saída! Só uma acelerada na Rubem Berta e entro no estacionamento. 4:40. Que sorte, a Van está pronta pra sair. Ainda tenho 15 minutos.

Que nada. Agora é a 23que esta parada, paradinha. Meu relógio não tem marcador de minutos e pode estar um pouco adiantado. Deve ser quase 4:50.

Peço pro motorista parar na entrada dos Gates._"Não pode não, dona, Van, agora, só pode parar lá na grade". A "grade" começa depois que termina o aeroporto. É o alambrado da pista.

Entro no aeroporto voando (quer coisa melhor num aeroporto?..) olhando pra cima, procurando a hora certa. 4:49. Ufa!, vai dar.

Corro com a mala de rodinhas, desviando das pessoas e das outras rodinhas. Paro em frente ao placar de embarques, olho meu vôo: Gol – 1732 – Santos Dumont – 17:25 – confirmado portão 9. Cassete!, justo hoje essa pipoca ta no horário! Continuo correndo. Fila pra entrar, fila pro raio x, passo todas – 17:02.

Parte 2 – Cadê meu vôo?

Olho de relance o placar, confirmado,tudo igual. Corro até o portão 9. Sala cheia, guichê vazio. No placar do portão 9 tem um vôo para BH. Não pode ser... perdi o vôo? São 17:04.. Será que mudou o portão? Procuro outro placar de embarques, passo o 10, o 11, o 12, no 13 tem um. Apagado. Volto todos – ou melhor – voltamos, eu e minha malinha rolante, até a entrada – portão 5. Está lá: Gol – 1732 – Santos Dumont – 17:25 – confirmado portão 9. Não pode ser... olho em volta a procura de uma camiseta laranja, aquele uniforme simpático e moderninho da Gol – a Cia aérea inteligente – mas eu devo ser burra, por que tem alguma coisa errada. Volto ao portão 9. Ninguém no guichê. Todo mundo sentado. Continuo procurando alguém por trás da vidraça do corredor de embarque, passo de novo os portões – 10, 11, 12. Achei!!! "Ei, moço da Gol!" ele fala num radio, não me ouve. Continua andando do outro lado, e eu do lado de dentro continuo chamando até ele me olhar: Aloprada, grudo meu cartão de embarque na vidraça – aquele papel sulfite que imprimi no web chek in... lembra? O rapaz é muito gentil. Olha os dados no papel do outro lado do vidro, pensa um pouco, olha pro teto e vai até uma fresta na vidraça, ainda pensativo. Repete os números... "1532... deve sair la pelas... 18:20... no portão 9 mesmo. Mas fica por ai, atenta aos avisos no alto falante"

Ufa, que bom... Bom??? Parece bom por que eu não perdi o vôo, mas vou esperar aqui mais uma hora, e corri que nem doida pra chegar em tempo. Não... isto não é bom... mas é isto.

Parte 3 - De volta pro portão 9, mas "sem chtres"

Sem chtres, como diz minha amiga alemã, sento e relaxo. Estou suada e cansada.

No placar do portão 9 continua o vôo x pra BH. Passa um casal na minha frente falando em Inglês... "we lost the flight" e eu respondo _ No, you don't, it's late. _ A mulher fala português comigo e em instantes se forma uma roda considerável a minha volta. Dou a informação que recebi a todos e ainda faço piada. _ Vou começa a cobrar informação... Não sei por que, mas estou de muito bom humor. As pessoas vão repetindo o que eu disse para os que se aproximam, na intimidade daqueles que compartilham um problema comum. A fila do próximo vôo para BH desfaz a roda.

É insuportável continuar aqui. Rostos cansados, irritados, atrasados, se arrastam pela fila...é sexta feira! Ta todo mundo de saco cheio. Saio dali e vou passear. Será que ninguém pensou em colocar um shopping center aqui? Até agora parece que não. Só 2 ou 3 lojas, nada que me agrade,mas compro um presente. Mulheres sempre se acalmam quando fazem compras. Caminho mais um pouco, e vejo muitas Bohemias suando frio num enorme balde de gelo. Sexta feira combina com cerveja. A voz irritante grita no alto falante que o voo 1532 esta previsto para 18:50 no portão 9. São 17:40. OK... A Bohemia venceu! Mais uma fila inevitável, mas estou realmente de bom humor. Afinal estou indo pro Rio pra passear, relaxar. Então por que não começar agora? Espero e peço a minha bem gelada. As pessoas que tomam cerveja estão sempre rindo ou sorrindo. Naquela ilha de bom humor e poltronas vermelhas acomodo minha mala e minha pessoa – Sem chtres!

Pego meu caderno de bolso e começo a escrever este post. A cerveja não esta tão gelada quanto poderia, mas cai muito bem. Em alguns poucos minutos de escrita ensurdeço completamente.

Parte 4 - Na ilha da surdez

São 18:30. De repente me dou conta que naquela ilha não se ouve a voz estridente do alto falante – talvez isto explique aquele pedaço de sossego e descontração. Questiono a garota ao meu lado, e ela diz que também não ouve e por isto vai sair de lá antes de perder o vôo. Faço o mesmo. Muito calmamente vou ate o placar central, só para conferir se meu vôo não vai atrasar ainda mais, já pensando na próxima Bohemia.

Opa... é isso mesmo? Vôo 1532 para Santos Dumont confirmado para 18:30???, mas são 18:30 agora!!!

Vôo (de novo...) pro portão 9 e vejo uma pequena fila na porta e um monte de gente sentada. Bom... ainda não embarcaram. No placar leio em letras miúdas vôo 1532 – 18:35 e quase que simultaneamente ouço alguém dizer "esta é a fila de espera"... é mesmo! Tem uma funcionária da Gol lá dentro, me apresso a lhe perguntar se esta embarcando o vôo 1532. Ela apenas balança a cabeça. Não posso crer... eu quase perdi o vôo!

As 18:45 estou confortavelmente (...?...) sentada em minha eleita janela. Ao meu lado uma garota fala no celular enquanto o comandante da as boas vindas e informa que temos ordem para decolar as 19:05. "puta que pariu, mais 20 minutos"exclama a garota no celular. "Estou neste aeroporto desde as 3 e meia. Sai de casa antes das 3" Minha cabeça rapidamente faz a conta... 4 hs, e ainda não embarcamos.

Parte 5 – Passageiros inteligentes

A mesinha a minha frente esta fechada e travada. Por sorte não tem nenhum anuncio comercial, mas poderia ter um da Viação Cometa, por exemplo : Se fosse de ônibus já estaria lá.

Dizem que há uma crise no setor aéreo, mas parece que é pior a crise no setor moral. A Infraero é coisa do estado, da aeronáutica, de milico, eu não tenho opção. Mas a companhia aérea é uma escolha do passageiro, no caso, eu. Por que nenhuma companhia aérea, em meio a este tumulto todo, colocou um funcionário a cada 100 m de corredor com um radio na mão prestando informação? Por que todas as web companys que se vangloriam de seus web services, não mandam um torpedo no celular de cada passageiro informando que seu vôo está atrasado? well,well, coisas que quem já passou por esta sabe como é...

quinta-feira, 3 de maio de 2007

post

Ganhei um Blog!

SP-27/12/2006 
 

Há exatos 40 anos atrás viajava de avião pela primeira vez na vida. Seria uma viagem longa onde visitaria familiares distantes e importantes capitais da Europa e Usa. Uma espécie de Tour du Monde anos 60. Por ser meu primeiro contato com o "mundo", meu pai achou que deveria registrar esta experiência e me presenteou com um diário. Capa dura gordinha, verde, imitando mármore, mas tudo em legitimo plástico moderno.

Quarenta anos depois, as vésperas de visitar um  filho nos EUA , ganho do outro filho um BLOG.... Um diário de bordo?

 
 

Somos todos iguais nesta noite

 

O diário de 1966 começava assim:

29/jun/1966

No aeroporto do Galeão estão todas as Misses do concurso Miss Universo...

 

O de 2006 começa assim:

27/dez/2006

No aeroporto de Guarulhos, entre os Genildes e Rotshildes, dois rapazes sentados de um lado, duas moças sentadas do outro nos bancos azuis do aeroporto da sala de embarque. Fazem um alegre Pic Nic, com cerveja, coxinha, pão de queijo, tudo em materiais descartáveis. Riem e degustam assuntos ainda mais descartáveis: chapinha, big brother, Débora Seco... Falam alto, sem vergonha de serem ouvidos; sotaque north east, camisa verde e amarela, sacolas de loja estufadas de coisas... Muitas sacolas... Reclamam do preço do sanduíche. Da próxima vez vão trazer de casa.

Vamos todos no mesmo vôo, lado a lado no bandejão. Somos todos iguais nesta noite.

 

 

Bolgeira, eu?

 

É engraçado escrever num blog. Estranho até. Agora todo mundo pode me ler. Mas será que alguém lê blog? Meu filho lê e defende – é a única mídia   descomprometida, afirma ele. De acordo.  Só preciso ensinar a alguns amigos o que é um blog.

Me parece algo como colocar um anuncio no 2º andar de um prédio, numa rua onde todo mundo anda a pé. Será que alguém olha pra cima?

talvez nao, mas da um status global.